terça-feira, 29 de julho de 2008

[A vida estende a mão]


(Death and Life, Gustav Klimt)
-----
A vida estende a mão
Aos que passam apressados
Aos que se movem sobre bicicletas
Ou carros cuidadosamente blindados

A vida estende a mão
Aos prudentes
E aos incautos
Aos famintos
E aos glutões

A vida estende a mão
Aos pedintes e aos mandachuvas
Beatos e pornógrafos
Lunáticos e físicos nucleares
Bombeiros e sucessores de Nero

A vida estende a mão
A toda sorte de gente:
Ferreiros javaneses, escritores mexicanos
Alfaiates tailandeses, bibliotecários cubanos
Economistas franceses, estafetas italianos

A vida não dá de ombros
A vida não entende o não vale a pena
A vida, esse rio do possível,
Está sempre jorrando
A vida simplesmente estende a mão

Se viver é melhor como dizem os vivos
Da morte nada se sabe
Se é fria ou doce
Repouso ou aniquilamento
Sonho ou brincadeira de Deus

Ontem éramos crianças
Hoje homens desconsolados
Já não brincamos com a antiga seriedade
Quem vai dançar em volta da fogueira
Quando estivermos mortos?

Nossos filhos estarão ocupados
Com os planos de sempre, adiados
E com outros jogos inventados
Quem, do meio da multidão
Voltará a face para a vida?

A vida, que estende a mão
Aos que passam apressados...

Uma pesada mão de mármore

Que remédio?

(Lutto T. Nebroso)

Um comentário:

Lutto T. Nebroso disse...

Bem, acho que só eu comento as postagens, mas não faz mal. Sintoma de solidão? Não exatamente. Só queria situar algumas coisas. Se é que consigo. Esse foi um poema lido num sarau de professoras, recentemente, e acho que elas gostaram - como explicar? Fiz para uma publicação da qual participava. Tempo bom. Nunca acertei a mão em escrever, mas sempre soube blefar. Não fracassei nesse propósito de mentir. Mas sinto vergonha desses versos primários. Vai ver eu estava bêbado.