quinta-feira, 28 de maio de 2009

[Senta que lá vem história]

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Sempre gostei de bancas de jornal. Desde pequeno. Para mim, havia verdadeiros tesouros escondidos ali. Um gibi do Motoqueiro Fantasma, novinho em folha (literalmente), ou qualquer coisa do mundo do terror (Contos de Cripta), tinha valor inestimável. Para mim, ainda mais. Simplesmente porque eu não tinha como comprá-los (do que hoje não reclamo, entendam). Restava vender todas as sucatas da casa para conseguir algum. Depois, trocava os quadrinhos lidos por outros na banca. A 2 por 1. Em pouco tempo, a já pequena coleção desaparecia. Na ida até o jornaleiro, eu delirava. Sonhava em encontrar uma caixa cheia dessas maravilhas e exibi-las aos amigos, como se eu fosse um representante da Marvel ou da DC Comics. Lembro que um desses amigos sofreu um acidente e ficou sem sair de casa por mais de dois meses. Recebia tantos gibis dos pais, tios e avós que chegou a encher um baú. Meu ídolo definitivo. Tive de dar os meus pulos para juntar 37 (exatamente esse número, nunca me esqueço). A minha maior sorte? Jogar apostado, claro. Com quem? Não, não foi com o dono da arca, triste menino. Vocês não fariam ideia. Joguei apostado com o filho do dono de uma banca de jornal, que ficava num Ministério. A partida, de bolas de gude, durou mais de uma hora. Cada teco era um gibi. Acho que eu era muito bom na arte de acertar o alvo. Ou então meu adversário tinha algum problema visual, vai saber? Levei mais de 15 revistinhas para casa, a maior parte na última jogada, a do tudo ou nada. Lembro especialmente de um cordel, que dei para a minha mãe. Era a história de um cachorro chamado Calar (que nome). Que ela tinha lido na infância, em Goiás. Inacreditável, não? Ela ficou tão alegre. E eu fiquei ainda mais orgulhoso da minha façanha. Meu pequeno dia de glória.

Hoje eu entro na Cultura, Fnac, Sodiler. Folheio Robert Crumb, Milo Manara, Guido Crepax. Encontro todo o processo de criação de um super-herói num único livro, com rascunhos raros, papéis especiais. Com algum esforço, consigo dinheiro para comprá-los. Mas nada vai me devolver aquela alegria da infância. Nunca vou encontrar, entre as prateleiras dessas lojas caras, um gibi daqueles. Amarrotado, com "orelhas de burro", conseguido com muito esforço. Com toda a sorte do mundo numa única jogada. Digam-me vocês: o que os olhos das crianças não são capazes de ver?

See you.

4 comentários:

Laninha disse...

Como escreve bem esse meu chapa! Prazer te ler, moço.

Eu tb vivia em bancas de revista.Só q num procurava por quadrinhos, era viciada em Sabrina, Júlia e Bianca...rs... tempinho perdido do c******, histórias com romances perfeitos e homens maravilhosos... enfim, prefiro a vida real agora. Infinitamente melhor!

Lutto T. Nebroso disse...

Eu me lembro de tudo isso. Desses best sellers populares. O papel amarelado, o formato "bolso" e "semi-bolso". Os meninos liam (líamos) Tex. E muita pornografia também, em quadrinhos e em preto e branco. Perto da de hoje, eram catecismos. A internet extrapolou todos os limites. E ainda não chegou ao limite. --- Foi um bom começo para uma leitora! A gente precisa começar com alguma coisa. Por isso, nunca falo mal do Paulo Coelho. Para quem tem 12 anos...
Abraço!
E Páuno Coelho.

Laninha disse...

Risos

Anônimo disse...

Você deveria escrever mais.