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A realidade supera a ficção, não acreditam? Muitos escritores tiram dos jornais a matéria-prima de seus textos adoráveis, mas menos surpreendentes do que a vida como ela é, Nelson. Ficcionar o que chamam de real não é exatamente para todos, bem claro. Mas Drummond, Clarice Lispector e João do Rio fizeram a sua parte, com sobra. Estou dizendo isso não por acaso. Desculpem o nariz de cera. Mas é que ouvi no rádio uma notícia que me acertou como um raio, e que junta uma ponta à outra. Realidade e ficção no mesmo time. Inspiração para um conto, uma peça? Talvez, mas não apenasmente, Odorico. Falava das vítimas do Haiti, coisa por demais triste, e do volume de doações feitas por brasileiros, difíceis de contabilizar. Como assim? Simplesmente porque muitos soldados deixam de se alimentar para guardar comida para as crianças daquele país - que sempre lhes pedem algo para comer nas ruas. Uma fruta, um doce, uma barra de cereal, qualquer coisa. O que nunca entraria nas estatísticas. Isso é bem nosso, não acham? Somos solidários por natureza. Herança da cultura africana? Não sei. Só posso dizer que me sinto feliz e orgulhoso de ser brasileiro nessas horas. Deve ser por isso que os pequenos acenam para eles, sempre sorrindo. Com aquela certeza de que, por algum momento, somos uma esperança e uma salvação. Se o Brasil é um país impossível de se governar não é por culpa de seu povo. Os haitianos devem intuir isso. Em algum lugar, nós, brasileiros, somos extraordinários. Morremos pela paz, pelos inocentes. E isso não é um filme, nem um livro. Drummond, João e Clarice não fariam melhor.
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3 comentários:
Adoro quando você escreve.
These foolish things?
Uhum.
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