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Essa era a imagem para o Dia das Mães...
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A história é curta.
Todos os dias livres saio com o pequeno João Pedro para jogar bola. Procuramos uma quadra de esportes vazia, entre as poucas que existem aqui, e brincamos. Sempre aparecem outras crianças. É quando fico de escanteio e deixo que elas se entendam. "Não vai jogar mais, grandão?" é uma pergunta recorrente. Não gosto de ser o pai do dono da bola, acho que vocês me entendem. Muitas vezes, finjo que nem estou assistindo ao jogo. Meu filho precisa de autonomia, aprender a circular pelo mundo com as próprias chuteiras, tamanho 31. Hoje ele levou bolada na barriga, caiu, chorou, mas se levantou e marcou um gol que me emocionou muito (oh! que cena mais original!). Tenho de dizer também que ele ficou sozinho pelo tempo necessário para eu comprar água na esquina (espero que o juizado de menores não leia isso). Ainda acredito na ideia antiga de que "o menino é o pai do homem". Por isso tento cuidar para que ele possa viver bem a infância. Isso inclui experiências como a de hoje, sim (ele não tem irmãos e quase não tem amigos). Sei que muita coisa fugirá do meu alcance, mas espero que ele seja um adulto pelo menos mais equilibrado do que eu.
Como eu ia dizendo, antes de ser interrompido por algumas digressões, a história é curta. A uma certa altura, o João Pedro ficou desesperado e saiu esbravejando de campo (mas não disse nehumum palavrão, porque é elegante, e porque não dou essa ousadia a ele por enquanto). A bola azul, do Chelsea, de que ele tanto gostava, atingiu a ponta de um arame do alambrado e furou. Conversamos sobre o assunto e a revolta não passou. Tive de ser mais enérgico e... bem... "resolvi" comprar imediatamente outra bola (sou um fracasso como pai, tenho de reconhecer). Sujos, suados e amarrotados, invadimos uma loja e, vendedores espantados, agarramos uma bola do Real Madrid, oficial (na verdade é uma réplica e tomara que ele não leia isso, o recém-alfabetizado.) Dois olhos nunca brilharam tanto na vida. Não, não eram exatamente os meus.
Na volta, uma hora depois, passamos bem perto da quadra e as crianças ainda estavam lá (esperem, eu acho que havia mais algumas). Com a mesma bola, vazia. Alheios a tudo, indiferentes a qualquer lógica, continuavam a jogar, felizes, quem sabe? Imersos em sua infância, de onde sairão em breve, eles inventam novos mundos para habitar. Lançam mundos no mundo com a sua alegria tão natural. Driblam até a falta de sorte.
Foi uma lição para mim e, espero, para o meninho com a nova bola do time espanhol. Que vai ser usada pelos seus novos amigos, se eu conseguir dar um jeito nos arames, com alicate. Eu tenho de servir para alguma coisa.
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P.S.: 1. João Pedro, "o menino sem medo" é como o chamo desde que nasceu; 2. O título dessa postagem bem que poderia ser "No futebol, não existe bola perdida."
3 comentários:
Que bonito.
Realmente. Mto, mto bonito. Mesmo.
:)
Não sabia do nascimento da nova bola... Como você narra bem as histórias da vida, sempre me emociono...
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