domingo, 15 de junho de 2008

[O Retrato de Dorian Gray]

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"A coisa mais comum, se a ocultamos, é um deleite."
(Oscar Wilde)


Prefácio de O Retrato de Dorian Gray


O artista é criador de coisas belas.

Revelar a arte e encobrir o artista é a razão de ser da arte. O crítico é aquele capaz de exprimir de modo distinto e com material diferente a sua impressão das coisas belas.

A forma e crítica mais elevada, como a mais baixa, é um gênero de autobiografia.

Os que só vêem intenções vis nas coisas belas são depravados destituídos de encanto. É um defeito.

Os que admitem intenções belas nas coisas belas são espíritos cultos. Para estes há esperança. São os eleitos, para quem o belo significa unicamente Beleza.

Não existe livro moral nem imoral. Os livros são bem o mal escritos. Eis tudo.

A aversão do século XIX ao Realismo é a fúria de Calibã ao reconhecer a sua imagem no espelho.

A antipatia que o século XIX volta ao Romantismo é o despeito de Calibã por não ver o seu rosto num espelho.

A vida moral do homem forma parte do argumento e do material do artista. Mas a moralidade da ate consiste no uso perfeito de um instrumento imperfeito. Nenhum artista pretende provar o que seja. A própria verdade pode ser provada.

Artista algum tem preferências éticas. Uma preferência moral, em um artista, é imperdoável maneirismo de estilo.

Não há artista doentio. O artista pode exprimir tudo.

O pensamento e a linguagem são para o artista instrumentos de uma arte.

Vício e virtude representam para o artista a matéria-prima de sua arte. Do ponto de vista da forma, o protótipo das artes é a do músico. Do ponto de vista do sentimento, é o talento do ator.

Toda arte é ao mesmo tempo aparência e símbolo.

Os que a penetram abaixo dessa aparência o fazem por sua conta e risco.

Os que decifram o símbolo também o fazem por sua conta e risco. A arte reflete o espectador e não a vida.

A diversidade de opiniões acerca de uma obra de arte evidencia que essa obra é nova, complexa e vital.

Quando a crítica discorda, o artista está de acordo consigo mesmo.

Pode perdoar-se a um homem a criação de uma coisa útil, contanto que ele não a admire. A única jusitificativa para a criação de uma coisa inútil é que ela seja admirada intensamente.

Toda arte é absolutamente inútil.

(Oscar Wilde, junho de 1890)

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