"Os Últimos Versos de
Lutto T. Nebroso"
Na noite da minha morte
Trouxeram-me tinteiro, pena
Folhas brancas, morfina
Rostos cheios de tristeza, silêncio
E soluços como assunto
Eu, que já não era o mesmo
Agora era outro, numa dupla realidade
Era o poeta maldito, suspenso no ar
E o corpo que se desfazia
A antecipar algumas raras velas
Pudesse escrever como jorra uma fonte
Amar pela última vez
Regressar à casa materna para apanhar os livros
Mas esses prazeres não foram nada
Diante do gozo do mal que pratiquei em vida
Temeroso e triste, como hão de supor, não estava
Não havia demônios nem abismos
Nem ainda as lápides insensíveis
A tragédia de existir e a dor da morte
Metamorfosearam-se no sutil espírito do vinho
O que é a tristeza afinal?
É saber-se morto entre os vivos?
É invejar a amargura dos nascidos?
A tristeza, eu digo, é um sentimento do mundo
E a morte e suas mãos brancas o sublime antídoto.
2 comentários:
Algum problema em copiar o poema para ser lido junto com a turma?
Manda ver!
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